Do desenho para a HQ
Uma das mais importantes sagas dos X-Men, A Era do Apocalipse, teve sua origem no desenho da TV
A retomada da antiga série animada dos X-Men reavivou o interesse do público nos mutantes. O desenho que tornou os heróis uma sensação nos anos 1990, quando teve produzidas suas cinco temporadas, voltou aos holofotes com o lançamento de uma tardia e sexta temporada, em março. Na empolgação, resgatei uma antiga saga da equipe para ler, A Era do Apocalipse, e logo me lembrei de uma conversa que tive anos atrás com o diretor de roteiro da animação, Eric Lewald, que me explicou que a famosa HQ teve sua origem na atração da TV.
A razão para eu ter tirado A Era do Apocalipse da estante é simples: eu nunca a li na íntegra. Não sei como acaba. Por causa do desenho, tornei-me um dos jovens entusiastas dos X-Men nos anos 1990, e como muitos dos meus amigos, ardi naquela febre mutante. Líamos tudo de Wolverine e cia., mas nunca cheguei ao final de A Era do Apocalipse. E não me faltou motivos para ler na época, pois em 1995, quando ela tinha acabado de estrear, uma amiga voltou de viagem aos Estados Unidos e me trouxe de lembrança um exemplar da edição especial X-Men Alpha, que deu início a saga. Muito antes de a trama chegar ao Brasil, em 1997, eu já estava avisado, mas algo aconteceu no meio do caminho – muito provavelmente, alguma bobeira adolescente do tipo “já sou adulto e não leio mais super-heróis” – e acabei não lendo quando a Editora Abril lançou a saga em nosso país.
Com a retomada do desenho que tanto me empolgou mais de trinta anos atrás, não tive dúvidas e decidi: “Agora vai!”. Foi durante a leitura que rememorei a entrevista que fiz com o roteirista Eric Lewald, produtor da série animada nos anos 1990 e chefe dos roteiristas na época. Era quem coordenava os esforços do que seria e o que não seria contado nas telas, e ele me revelou que o episódio duplo O Valor de um Homem, da quarta temporada, é a semente de A Era do Apocalipse. O curioso é que o desenho acabou apresentado ao público depois da HQ, dando a impressão de que ele foi inspirado nos quadrinhos e não o contrário.
Na trama do desenho, um mutante a serviço dos androides genocidas Sentinelas, volta no tempo e assassina Charles Xavier, fundador dos X-Men. Em um exercício de imaginação de como seria um mundo sem Xavier, Lewald e sua equipe de roteiristas apresentaram um cenário tomado pelo caos e pela guerra entre humanos e mutantes, e no qual muitos dos mutantes que estavam destinados a se tornar x-men na realidade normal, lutam para sobreviver. “A história foi apresentada para todos os envolvidos, inclusive para a Marvel, em abril de 1994. Isso quer dizer que a Marvel Comics soube da trama nove meses antes do lançamento da saga A Era do Apocalipse”, disse Lewald.
Imediatamente, a editora se pôs a produzir uma saga, e menos de um ano depois, A Era do Apocalipse chegou às comic shops. A trama do gibi é bem parecida. Nela, o mutante Legião volta ao passado e, acidentalmente, mata Charles Xavier. Em um mundo sem Xavier, o tirânico mutante Apocalipse não encontrou resistência para subjugar a humanidade e deu início a um período em que pessoas comuns passaram a ser caçadas e a combater mutantes opressores. Só depois disso é que acaba sendo formada uma equipe chamada X-Men, liderada por Magneto.
As semelhanças entre desenho e HQ vão além da ideia inicial e chegam aos detalhes, como Magneto ser líder de uma equipe que se esforça para apaziguar os ânimos entre humanos e mutantes. Nos gibis, Wolverine não é membro dos X-Men de Magneto e atua em parceria com sua amada Jean Grey, uma dinâmica reproduzida no desenho entre Wolverine e Tempestade, sua esposa naquela realidade. Além disso, o visual de alguns personagens, como os mutantes Colossus, Noturno e Solaris, são semelhantes nos quadrinhos e no desenho, assim como alguns conceitos da saga dos gibis, como a parceria entre os mutantes Dentes de Sabre e Selvagem, que também são reproduzidas nas telas. Até mesmo personagens criados para a HQ ganharam presença na animação, caso do mutante Holocausto.
Nos Estados Unidos, A Era do Apocalipse começou em dezembro de 1994 com o lançamento de X-Men Alpha – lançado com data de fevereiro de 1995 –, meses antes da exibição do desenho. Lewald tem a explicação: “Animação para a TV leva tempo. Muitos meses escrevendo o roteiro levaram a muitos meses de produção, o que, por sua vez, levou a um lançamento em setembro de 1995”. Apesar de Lewald e equipe terem fornecido a semente que inspirou a saga dos quadrinhos, as duas histórias foram produzidas juntas. “Eu me lembro de receber muitas anotações detalhadas sobre a HQ, pois envolvia a história do Professor Xavier”, revelou.
Esse trabalho em parceria é reconhecido pelo roteirista, que parece estar bem à vontade com a ideia compartilhada. “Também me lembro que, quando sugeri a trama de O Valor de um Homem, usei ideias do filme A Felicidade Não se Compra [1946] e do episódio A Cidade à Beira da Eternidade [1967] de Star Trek. Todos emprestamos ideias uns dos outros. O que importa é a execução delas”.
Célula de animação de O Valor de um Homem com o casal Wolverine e Tempestade
O visual dos mutantes Colossus, Solaris, Dentes de Sabre e Selvagem é semelhante ao da HQ
Essa foi a edição 86 da newsletter SOC TUM POW. Nela apresento a capa da edição de mesmo número de algum gibi, e a escolhida foi a de Tales of the New Teen Titans 86, de 1988. A revista marca a estreia da vilã Distócia, cujo poder de produzir confusão mental foi magistralmente representado na capa pelo artista Eduardo Barreto.
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Texto bom demais! Já compartilhado com os amigos!
Xmen 97 assim como esse texto é simplesmente EXPETACULAR, e lendo ele, me deu vontade de rever essa Saga tanto nos desenhos quanto nos quadrinhos