Inteligência aguçada
A HQ francesa protagonizada por Sherlock Holmes que é um espetáculo de inteligência narrativa e visual
Na semana passada, resenhei a HQ A Estrada, do francês Manu Larcenet, da editora Pipoca & Nanquim, e fiquei pensando em outros quadrinhos da mesma nacionalidade lançados pela editora. Muitos dos que me encantaram já foram apresentados nessa newsletter, caso de Verões Felizes (na verdade, franco-belga), O Combate Cotidiano e até contos do bárbaro Conan interpretados por autores da terra do croissant. Nessa onda de relembrar de HQs francesas da Pipoca & Nanquim, lembrei-me do espetáculo visual apresentado em Na Mente de Sherlock Holmes.
É preciso fôlego para ler essa HQ protagonizada pelo famoso detetive, e acima disso, concentração. Não que a graphic novel lançada no Brasil no ano passado seja ruim, pelo contrário, é excelente, dona de uma qualidade atestada por sua publicação em 15 países desde sua estreia na França, em 2019, e pelas várias premiações que levou. Os requisitos se devem por serem necessárias horas e até dias para digerir a quantidade de informações ao longo da trama e para aproveitar seu visual esplendoroso.
O mistério investigado por Sherlock parte de uma espetaculosa apresentação no Teatro Lírico de Londres e do sumiço de algumas pessoas da sociedade londrina. Em busca de respostas, ele envereda por uma peregrinação ao longo de várias locações da cidade conversando com suspeitos e levantando pistas.
A trama foi criada exclusivamente pelos quadrinhistas franceses Cyril Lieron e Benoit Dahan, que optaram por trabalhar com uma história original ao invés de adaptar alguma das clássicas tramas de Sherlock da literatura. O mistério apresentado por eles é fascinante por si, e fica ainda mais rico pela maneira como transformam o desenvolvimento da trama em um espetáculo visual.
A grande atração da narrativa é o layout, pensado de modo a conduzir o olhar a diferentes partes das páginas em busca de detalhes. Com uma dinâmica lúdica, muitas vezes a história exige que o leitor interaja com a graphic novel que tem em mãos, virando-a de cabeça para baixo, lendo páginas contra a luz ou dobrando-as para ver revelada uma cena inesperada.
Mesmo quando uma página não recorre a tais invencionices, ela oferece, no mínimo, ilustrações ricas em detalhes e convidam a minutos de admiração. No meu caso, a admiração de todo o álbum levou dias, e já anseio por lê-lo mais uma vez, mas ainda estou tomando fôlego.
Na Mente de Sherlock Holmes
Pipoca & Nanquim
108 páginas
Essa foi a edição 90 da newsletter SOC TUM POW, e com ela trago a capa de mesmo número de alguma série em quadrinhos. Escolhi a capa de Jonah Hex 90 (1985) por ser muito fã de capas que retratam alguma cena inusitada e que provocam o leitor a dar uma conferida na revista. É o caso dessa imagem de autoria de Mark Texeira, em uma época em que ele estava galgando espaço até se consagrar como um dos maiores astros dos anos 1990.
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