Superastro
Com total liberdade criativa, a HQ Grandes Astros: Superman completa vinte anos como uma das mais impressionantes histórias do Homem de Aço já produzidas
Prestes a completar duas décadas desde seu lançamento e em meio a uma nova euforia ao redor do Homem de Aço, a minissérie Grandes Astros: Superman, iniciada em novembro de 2005, figura como uma das melhores HQs do herói de todos os tempos. Ao longo dos anos, o trabalho dos escoceses Grant Morrison (roteiro) e Frank Quitely (arte) faturou prêmios, acumulou elogios de público e crítica, rendeu milhões de dólares para a DC e foi adaptado na forma de um longa-metragem animado, que também rendeu bons dividendos para a Warner. Tudo isso nasceu das cinzas de um projeto que não viu a luz do dia.
Grandes Astros: Superman acontece fora da cronologia do universo DC e foca os últimos atos do Homem de Aço, fadado a morrer em poucos meses devido à morte celular. A saúde do kryptoniano é afetada quando, após resgatar uma expedição de cientistas rumo ao Sol, ele sofre uma alteração genética que leva suas células a absorverem mais radiação solar – a fonte dos poderes do herói – do que são capazes de processar.
A partir dessa premissa, a minissérie em 12 partes traz histórias completas a cada edição e explora diversos aspectos da mitologia do Homem de Aço, como seu amor por Lois Lane (Grandes Astros: Superman 2), sua amizade com o fotógrafo Jimmy Olsen (edição 4), a relação de Clark Kent com seus pais adotivos (número 6) e mais. Cada capítulo pode ser lido isoladamente, mas juntos compõem a trama completa de Grandes Astros, que resulta em um inevitável conflito entre Superman e Lex Luthor, o verdadeiro responsável pela degeneração celular do herói – como revelado no início da primeira edição.
Ideia promissora
A HQ fez parte da linha Grandes Astros, um projeto da DC em que profissionais renomados receberam liberdade total para trabalhar com ícones da editora. A proposta permitiu a Morrison resgatar vários conceitos de um antigo projeto seu recusado pela editora em 1999, Superman Now (algo como Superman Hoje), em que ele e outros roteiristas (Mark Millar, Mark Waid e Tom Peyers) pretendiam revitalizar o herói, então com 61 anos de existência, para o século 21.
Na ideia original de Superman Now, o Homem de Aço sofreria uma alteração em seu corpo, passando a absorver o triplo da radiação solar e se tornando capaz de feitos ainda mais incríveis. “Ele está muito mais poderoso e percebe que há mais a ser feito e aprendido, o que o deixa com uma responsabilidade maior do que nunca”, dizia a descrição de Morrison ao apresentar o projeto para a DC em 1999.
Essa era a forma que os roteiristas tinham encontrado para aproximar o herói da ideia de perfeição mostrada em suas primeiras HQs, em que ele era representado como um ser quase divino. Essa proposta de grandiosidade foi reaproveitada em Grandes Astros. Um bom exemplo é mostrado na edição 10, em que o Homem de Aço cria a vida em um universo paralelo só para estudar como a humanidade se desenvolveria sem a presença do herói. Um detalhe: a trama revela que essa realidade alternativa é a nossa, onde o kryptoniano existe apenas como um personagem de gibi. Essa ideia e até cenas inteiras, como a em que Lois e o herói jantam dentro do Titanic, foram reaproveitadas de Superman Now.
Uma informação pouco conhecida é que parte das propostas de Morrison para Superman Now se devia a uma inesperada conversa entre ele e um cosplayer do Homem de Aço na San Diego Comic Con em 1999. Muito impressionado com o visitante da feira, Morrison propôs uma conversa em que o cosplayer encarnasse o Homem de Aço, e durante uma hora e meia o roteirista se deixou levar pela fantasia de estar conversando com o próprio kryptoniano. O encontro esclareceu várias dúvidas que Morrison tinha em relação ao roteiro de Superman Now e o inspirou a escrever diversas páginas em poucas horas.
A vida pessoal do roteirista também serviu de influência na produção de Grandes Astros, e um dos acontecimentos mais marcantes foi uma morte na família em 2004. Assim como Superman, o pai de Morrison foi vítima do câncer e, naquele ano, dedicou seus últimos meses para ajudar a comunidade em que morava. Ele fez isso ao escrever um livro ensinando às pessoas como se relacionar melhor com os órgãos públicos da cidade.
Recepção
Apesar do lançamento no final de 2005, a edição 1 foi publicada com data de janeiro de 2006, enquanto a 12 saiu no final de 2008, encerrando o período de três anos de produção da HQ. O trabalho árduo de Morrison e Quitely e a originalidade de roteiro e arte fizeram de Grandes Astros: Superman uma das HQs mais aclamadas do Homem de Aço. De acordo com dados de vendas fornecidos pelas distribuidoras dos Estados Unidos e disponíveis no site Comichron, o primeiro número vendeu mais de 170 mil exemplares e ocupou o 2º lugar na relação dos gibis mais vendidos do mês (atrás apenas de mais uma edição de Crise Infinita, a grande saga da DC de 2005).
A posição foi mantida pela edição seguinte, ainda que as encomendas tenham caído para 124 mil cópias. Os números seguintes também sentiram uma redução nas vendas, mas, mesmo assim, os cinco primeiros mantiveram-se acima de 100 mil exemplares cada. Ao final, Grandes Astros: Superman rendeu mais de US$ 3,5 milhões para a DC, sem contar os relançamentos de cada edição e os encadernados.
Durante sua publicação, a minissérie faturou vários prêmios, inclusive três dos mais prestigiados no mercado: o Eisner e o Harvey Awards, nos Estados Unidos, e o Eagle Award, no Reino Unido. Ao todo foram dez premiações, das quais três cabem ao artista Frank Quitely, que recebeu o Harvey por três anos consecutivos (2007 a 2009) na categoria de melhor artista.
Em 2011, a Warner lançou direto no mercado de home video a animação Grandes Astros: Superman, inspirada na minissérie. Com roteiro do quadrinhista Dwayne McDuffie – falecido no fim de semana do lançamento –, o longa é bastante fiel à HQ e reproduz textos e visuais com exatidão. Apenas nos Estados Unidos, as vendas de DVD e Blu-ray renderam US$ 7 milhões para a Warner naquele ano.
As críticas, números e premiações são reflexo da altíssima qualidade da HQ, que conta com um roteiro inteligente e uma arte impressionante. Merecidamente tida como uma das histórias mais originais do Homem de Aço, Grandes Astros: Superman conquistou seu posto como um dos novos clássicos dos quadrinhos de super-heróis.
Arte de Frank Quitely para a capa da versão encadernada de All-Star: Superman lançada em 2011 nos Estados Unidos
No Brasil
Em nosso país, Grandes Astros: Superman foi lançado em três formatos. O primeiro foi como uma minissérie em 12 edições pela Panini que demorou quase dois anos para ser concluída. Publicada entre janeiro de 2007 e dezembro de 2008, a minissérie sofreu atrasos devido a problemas de cronograma da própria DC. Em seguida, o trabalho de Morrison e Quitely foi relançado em uma luxuosa edição encadernada, em 2012, também pela Panini, e que contou com vários extras – o encadernado ganhou uma 2ª edição em 2018. A versão mais recente é de 2024, lançada em formato avantajado como Grandes Astros: Superman – Edição Absoluta.
Por falar em formato, vale notar que o tamanho da HQ aumentou a cada republicação no Brasil. A versão inicial (a minissérie em 12 edições) saiu no tradicional “formato americano”, com 17 cm x 26 cm. A primeira versão encadernada (de 2012 e 2018) foi publicada dois centímetros maior, medindo 19 cm x 28 cm. Por fim, a Edição Absoluta impressionou com 21,5 cm x 33 cm, um tamanho quase 30% maior do que a versão original.
As três versões de Grandes Astros: Superman lançadas no Brasil
Esta foi a edição 132 da newsletter SOC TUM POW e, com ela, trago a capa de mesmo número de alguma série em quadrinhos. A escolhida é a de Captain Marvel 132 (1952), desenhada e finalizada por C. C. Beck. Eventualmente, as séries protagonizadas pelo Capitão Marvel contam com algumas capas que se destacam, e essa é uma delas. A dramaticidade da cena em que o herói tenta conter a fúria de uma enchente é impressionante. É emocionante ver a maneira como ele tenta usar sua força e seu corpo para ganhar tempo para que as pessoas ao seu redor consigam fugir. Impressiona ainda mais saber que mesmo o homem tido como o Mortal Mais Poderoso da Terra, pouco pode fazer ante a fúria da natureza. Infelizmente, uma imagem bastante atual.
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Curioso que ao mesmo tempo em que Grandes Astros Superman era lançada, uma seria do Batman & Robin da mesma linha também saiu - só que essa nunca foi concluída.